Planeta é a bosta da Terra. A cidade: Rio de Janeiro que se vangloria de ser a cidade maravilhosa. Pra muito de seus habitantes isso não é nem um pouco verdade. O tédio está matando pouco a pouco Poeta. Esse não é seu nome verdadeiro, mas todos o chamam desse jeito. Tem esse apelido porque ele vive rabiscando num caderninho que guarda no bolso traseiro de sua calça. Não há nada pra fazer. Ninguém com quem falar. O animal acorrentado dentro dele ruge querendo se soltar. Foi abandonado pelos os assim supostos parentes. Agora ele está por conta própria. Mas não seria a primeira vez. Desde que se lembra como gente o Poeta se sentiu assim, solitário, o único ser do mundo. Sem vontade de nada e de ninguém. Não tem cabeça para começar ou terminar algo. É puro tédio. Está falando sozinho novamente.
“E ai, você esta legal meu chapa?”
“Vai se fuder seu merda! E não me chame de chapa. Parece coisa do meu pai.”
“Não precisa ficar nervoso. Só por você está sozinho e ninguém te ama e ninguém lembra para você”
“Vê se não enche a porra do meu saco, seu viadinho de merda”
“Se não vai fazer o que? Se bater? Vai bater em você mesmo”
Droga. Bosta. Merda. Se sente enlouquecendo. Perdidinho da silva. Entediado. Se distanciando. De tudo e de todos. Do mundo inteiro. Da realidade. Às vezes ele gostaria de passar os dias na cama. Só sentido os dias passarem. E o emaranhando de teias de aranha ao seu redor crescer ate virar um casulo. Cantando cantigas de ninar. Contando carneirinhos. Contando as horas e os dias. O dia nunca chega. Mas que dia é esse? O que espera? Não há dias especiais esperando por ele, não existe porra nenhuma de dia D em seu calendário. Eu não espero porra nenhuma. Não há nada para fazer. Vagando pelas ruas digita historias que ninguém vai ler. Escreve poemas que nunca serão entregues. Pensa em conversas e discussões que nunca teve. Tem aventuras e romances em lugares irreais e com pessoas feitas de sonhos e desejos não realizados. Deseja cama. Colo. Um amor maternal. Um afeto fraternal. Um carinho. Algo que lhe faça dizer “eu sou o homem mais feliz do mundo”. Vive milhares de vidas dentro da sua cabeça. E aquele buraco em seu peito vem crescendo. Era do tamanho de uma bola de pingue pongue. Agora e do tamanho de uma laranja. E nada parece tampar esse buraco. Nem fotos e nem as lembranças. Nem nada.
Poeta caminha, sem rumo, sô caminha. Não quer voltar para casa. Pois não tem casa para onde voltar. Tem o sofá cama na casa de um amigo. E um bico nojento. Assim ele vai indo e seguindo em frente. Isso não é viver, se chama sobreviver, obrigado a suportar.
Com as mãos no bolso, cabeça baixa, um túnel bem a sua frente. Ele leu em algum lugar – revista dominical, jornal, sabe lá onde – que as pessoas tem medo de entrar em túneis. Elas temem nunca mais sair. O velho medo do escuro e do desconhecido. Ele não tem medo de adentrar nesse túnel. Não se importa. Na boca do túnel um cheiro bruto de mijo e fezes o atinge, ha também um odor forte de fumaça no lugar, e ha uma imensa escuridão a sua frente e um ponto branco lá no fundo.
Estou tão entediado. É isso que ele pensa antes de entrar no túnel.
domingo, 1 de junho de 2008
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