Segunda feira de manha. O Domingo é apenas uma lembrança distante e turvada para você. Como o tempo passa rápido quando a gente se diverte, não é mesmo? Relatividade. O tempo é relativo. Einestein. Cabeça nas nuvens, mãos no bolso do casaco surrado, enquanto espera o trem do metro. Você foi se arrastando para a estação. Esta podre de ontem à noite. Ficou horas bebendo com os amigos da faculdade. Ainda sentia aquele gosto amargo de cerveja passada. O estomago não esta cem porcento. A cabeça doía levemente.
No jornal de hoje, havia noticias sobre a morte de varias pessoas num acidente de ônibus em algum lugar do interior. Também havia fotos de uma jovem com biquíni minúsculo dizendo que havia tido um caso com um jogador de futebol. A tal modelo e atriz estava promocionando o seu novo livro e filme pornô. Você gostaria de tirar férias daquilo tudo. Da cidade a cada dia mais louca. Desses jornais vagabundos onde só havia desgraças, noticias supérfluas sobre celebridades e pornografia leve. Estava cansado de tudo. Às vezes acha que sua vida havia se tornando um grande nada sem graça. Cotidiano puro. Nada demais. Como gostaria de pedir pra outra pessoa mesmo que por alguns segundos, mesmo que por uma hora, ou quem sabe se ela fosse bem gentil, por um dia inteirinho, a vida dela. Só um pouquinho. Só pediria isso. Se tivesse dinheiro acha ate mesmo que pagaria um bom preço pela vida de alguém. Apenas desse jeito achava que as coisas seriam um pouco melhor.
O trem chegou. As pessoas se amontoaram na frente das portas dos vagões. Se apertando, se espremendo. As pessoas queriam chegar na hora, se importavam com isso, horários e deveres. Não sabia bem o porque, mas não se sentia na obrigação de correr ou chegar na hora. Na verdade, espera ansiosamente o dia em que fosse mandado embora. Despedido. Você com certeza não reclamaria, nem nada. Apenas sairia da redação com a com um tremendo sorriso no rosto e sairia sem se despedir de ninguém. Ate mais otários. Voltaria para casa.
Antes que as portas fechassem, entrou no vagão. Não havia lugares para se sentar, teve que ficar em pé. Normalmente já ficaria em pé. Hoje sentia vontade de ler. Havia comprado um pocket com alguns poemas de Ferlinghetti. Pensou num trecho que sabia de cabeça.
Estou à espera / do sentir algum prenúncio / da imortalidade / relembrando minha infância e estou à espera / que voltem as manhãs de esperança / que voltem os campos verdes da juventude.
Mas não tinha como ler o livro em pé. Pensava em estradas poeirentas e no ar batendo com força no rosto em quanto andava num carrão sem capota pelas estradas sem destino algum. Isso seria bom. As pessoas se apertam no vagão. Tossem. Falam alto. Escutam musica nos fones. A garota a sua frente, loira, magra, roupa de ginástica, os caras não param de olhar para bunda dela, escuta alguma musica eletrônica, uma batida constante e barulhenta.
Você chega a cogitar a possibilidade de por os fones também, quem sabe assim a viagem seria mais rápida, mas prefere que a cidade seja a sua musica. O olhar das pessoas, tosses, os peidos e arrotos secretos. Os espirros. O caminhar. A abertura da porta. As pessoas se espremendo para sair e para entrar. O fechar das portas. Mais tosses. Cochichos. Olhares. Mais gente com fones escutando musicas distintas. O bater de pernas e dedos incomodados. O tempo que passa. Atrasados. Nervosismo. Tensão. O sono das pessoas que ainda não passou direito. A falação. Mais tosses. O bater continuo da perna. A musica constante de uma cidade que não para. De pessoas que vem e vão. Que caminham, pegam ônibus e metro, trabalham, param para almoçar todos os dias, voltam aos trabalhos, saem e voltam para o ponto de ônibus ou para estação de metro, mais uma maratona para voltar para casa. E esperam ate dormirem e assim tudo de novo no dia seguinte.
Faltam dez minutos para as oito e meia. Está um pouco atrasado. Mas chegou no lugar. Ao sair com uma multidão de apressados pelas portas do vagão, Felipe sabe que esta a espera de algo... Mesmo não sabendo muito o porque seja isso que ele tanto procura.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
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