domingo, 13 de julho de 2008

Bom dia, vida

Se existe uma hora do dia que eu não suporto ficar sozinho é quando acordo.
O abrir lento e desajeitado dos olhos. Os raios solares entrando por uma pequena fresta da janela. Aquele gosto acre e amargo na garganta. A saliva que se acumulou com o passar da noite na sua boca. O especo incomodo vazio ao seu lado da cama. Aquele espaço em branco, aquele buraco na sua vida. A área incompleta no seu coração que a cada dia parece mais endurecido e triste.
Levantar ou não?
Enquanto as ultimas imagens dos sonhos se apagam como brumas no vento forte na sua cabeça, o despertar se torna real e amargamente tangível. Prognostico do dia: chuvoso e melancólico para mim e ensolarado para o resto do mundo. Nada excitante que faça pular da cama ou urrar de alegria.
Duas alternativas
1) Seguir em frente – como sempre faço
ou
2) desistir. Que a minha cama se torne a minha tumba
Antes da escolha, a cama se cansa do peso natimorto do meu corpo e me expulsa, sem do nem piedade. Quando dou por mim, estou parado, me admirando no espelho do banheiro, com os pés nus no ladrilho frio e tentando reconhecer o reflexo que se projeta a minha frente.
O dia esta ensolarado, céu azul piscina de grã fino e com nuvens em forma de algodão doce. Caralho, só falta à porra dos passarinhos verdes cantando doces e maravilhosas melodias por ai. Uma arma. Eu preciso de uma arma. Ou veneno. Ou apenas um corda. Grande coisa, o dia esta lindo, o que isso importa? Me importa? Te importa? Quem se importa com essa merda? Não importa. Nada importa.
Ponto zero do dia: eu com a escova na mão, na frente da pia do banheiro. Aqui onde tudo começa. A pasta na escova. A escova nos dentes. O atrito das cerdas com os dentes sensíveis pela ranger da noite. Abrir a torneira. A água na boca. Gargarejo. Cospe a água misturada com pasta. Sorri para a imagem a sua frente. Dentes limpos e saudáveis. Toalha. Secar o rosto. Privada. Evacuação matinal. Limpar. Descarga. Banho. Abrir torneira. Água morna, por favor. Água caindo pelo corpo. O resto do sono indo pro ralo junto com a água. Água batendo na cabeça. Aliviando a tensão matinal. Fechar torneira. Novamente toalha. Corpo seco. Quarto. Roupa limpa. Se vestir. Ir a cozinha. Café. Perto como a noite e doce como beijo roubado. Ditado da vovó. Goles rápidos. Quente. Bom. Despertar total. Cafeína no sangue. Chave. Sair de casa. Pra onde? Qualquer lugar. Nenhum lugar. Apenas sair. Elevador. Botão do elevador. Esperar. Ele chega. Abre a porta. Entra. Botão para descer. Espera ate chegar no hall. Sai para o hall. Via para rua. Na rua o dia. O sol. As pessoas. O carro. O barulho. O sol no rosto. Caminhar. Cotidiano. Vida. Bom dia , vida.

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